O Jardim Japonês em Grandes Espaços

Transformar nosso jardim em um jardim japonês moderno, não significa mudar radicalmente nosso espaço, na maioria das vezes basta acrescentar alguns ícones e utilizar de alguns artifícios para atingirmos este objetivo.

 

Devemos trabalhar em cima do que já temos, as dicas que seguem abaixo, vão fazer você conhecer melhor a “filosofia” do jardim japonês, para poder aplicar no seu jardim, de acordo com a sua necessidade.

Os Caminhos do jardim

Os caminhos tem a evidente função de conectar entre si os pontos do jardim, e por si só podem ser elementos de grande beleza, com objetivo de proporcionar uma caminhada prazeirosa ente os cenários do jardim.No jardim japonês, temos basicamente dois tipos de caminho:

Nobedan e Tobiishi.

Nobedan:
É um caminho mais formal, por questões práticas, é indicado para lugares mais urbanizados, aonde há um grande fluxo de pessoas, perto das moradias. É construído de vários tamanhos de pedra, unidas entre si, para constituir um conjunto sólido, dando a impressão de uma massa única. Pode ser feito de pedras naturais, tijolo, pedras serradas, dispostas como um mosaico. Pode ser aplicado inclusive em estradas aonde transitam veículos.

Caminho Nobedan
Caminho Nobedan

Tobiishi:
É um caminho informal, mais indicado para lugares pouco urbanizados, naturais. É feito com pedras brutas ou serradas com aspecto natural, dispostas uma a uma ao longo do caminho, de forma serpenteante. 
É o ideal para entremear um pequeno bosque, proporcionando uma caminhada prazeirosa e cheia de surpresas.
A disposição serpenteante das pedras nos obriga a estar atento para aonde pisamos, nos mantendo no aqui e agora, presente no momento e desligado dos problemas cotidianos. 
A primeira pedra do caminho, sempre maior, é chamada de ‘kutsunugi-ishi”, ou pedra de tirar os sapatos. É um convite a quem queira tirar os sapatos, para literalmente “sentir” a caminhada
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Caminho Tobiishi

As pedras no Jardim:

     As pedras têm vital importância no jardim japonês, conferem um ar de ambiente inato, e muitas vezes procuram simbolizar montanhas e paisagens miniaturizadas.

     Transmitem uma idéia de secularidade, especialmente as pedras encobertas pelo musgo e pela poeira impregnada pelos anos.

     Os formatos mais comuns são os arredondados, sugerindo a ação de desgaste pelo tempo. Dispostas de forma casual, compondo conjuntos isolados de pedras que combinam entre si.

     Em certos conjuntos utiliza-se uma pedra maior na vertical para simbolizar o pai, uma pedra na horizontal que simboliza a mãe, e pedras menores espalhadas ao redor simbolizam os filhos.

     Para um jardim japonês, o mais importante em relação às pedras, é dispô-las informalmente, de maneiras a não deixar nenhum indício da influência humana.  

 

Pedras dispostas naturalmente
Pedras da família ao fundo da lanterna
Pedras representando montanhas

A água no Jardim:

     O elemento água é essencial em um jardim japonês, representa a vida, e no sentido budista, a sábia adaptação a todas as circunstâncias.
     Para um jardim de amplo espaço e orçamento, uma boa opção é uma cascata natural, sabiamente projetada por um paisagista, onde a água cai em um lago repleto de carpas KOI. 
     Para um jardim pequeno, um vaso Tsukubai representa sublimemente o elemento água. O fluxo constante da água renova a energia, e oferece um som terapêutico ao ambiente.
     Temos também a água bem representada no ”jardim zen”, onde as pedras grandes representam ilhas, e o cascalho branco representa o mar.

Lago com Carpas
Areia representando água
Areia representando ondas
Fonte Tsukubai

As plantas no Jardim:

 

     As plantas são a alma do Jardim, proporcionando vida e frescor. As árvores altas provém a sombra, os arbustos nos trazem a beleza e o preenchimento de espaços vazios, proporcionando o equilíbrio Yin-Yang (cheio e vazio) no espaço do jardim.

     Ambientes formais, com muita construção e formas geométricas, são harmonizados com plantas informais (tortuosas, finas, com formas pouco definidas – bambu, papiro, cavalinha, troncos finos e compridos).
Ambientes informais, sem muita definição de forma, ganham sobriedade com plantas robustas e triangulares (Pinheiros, kaizuca, arbustos de topiaria).

     Existem algumas espécies que são altamente usadas no jardim japonês, provém da tradição – o pinheiro Kuro-matusuo, a sakura, o bambú, o Junípero Kaizuca.

     Para um jardim moderno, a escolha das plantas não precisa ser rigidamente ditada pelos padrões japoneses, uma vez que nosso país possui outro tipo de flora, e é consenso entre os grandes paisagistas que se deve explorar a flora nativa de cada região. Um bom exemplo é o Jardim Japonês de Belo Horizonte, onde o Paisagista Haruho Ieda soube aproveitar as árvores nativas, acrescentando arbustos e árvores pequenas, para complementar a paisagem.

     Em geral, seguindo a linha de pensamento do paisagismo oriental, pode-se aconselhar:

* O jardim japonês procura criar uma paisagem o mais natural possível, sem indícios da influência humana, portanto nunca se deve plantar árvores ou arbustos de maneira ordenada, como uma plantação, as plantas tem que ser dispostas harmonicamente, mas de maneira a não criar um padrão. 

* A disposição simétrica também não é apreciada, e dê preferência a números ímpares. É conveniente que não haja nenhuma árvore plantada no centro geométrico do jardim, a exemplo da arte do Bonsai, que nunca é plantado no centro do vaso.

* Com relação às flores, devem ser discretas e em pouco número, muitos afirmam que não deve haver flores no jardim japonês. Isto porque as flores podem desviar a atenção, tornando-se a atração principal do jardim. O jardim japonês difere bastante do jardim ocidental nesta questão – o Jardim ocidental dá mais importância às cores e às formas (cheios de flores e topiaria em formas geométricas), enquanto o jardim Japonês tem como objetivo realçar a natureza inata e passar a idéia de secularidade.

     Usando o bom senso, como o nosso objetivo é transformar nosso jardim em um jardim japonês moderno, o ideal é utilizar o jardim que já temos em casa, mantendo na maioria das vezes as plantas e árvores que já existem, e acrescentando outros elementos, para atingir a nossa finalidade.

Bambus minimizando o muro
Árvores minimizando o fundo
Pinheiro negro emprestando aspecto secular ao jardim

As cercas, biombos e tapumes:

     As cercas de bambu, os tapumes e biombos são elementos sempre presentes nos jardins japoneses, a textura e a cor destes elementos nos transmite conforto e aconchego, tornando ainda mais agradável o ambiente.
     O uso deste material remete ao Japão antigo – o relevo bastante íngreme das ilhas, bem como a escassez de madeira, levaram os japoneses a desenvolverem técnicas de construção utilizando o bambu e o papel de arroz. 

     O bambu tem significado especial – no budismo representa a sabedoria de se curvar diante das adversidades, para em seguida voltar a levantar.

     As cercas, tapumes e biombos, quando usadas para separar ambientes, dão um ar de mistério ao jardim, pois não revelam de todo o ambiente inteiro, que só se revela à medida em que penetramos no jardim. 
     As cercas de bambu são muito utilizadas como plano de fundo, como se fossem a tela de uma quadro. O efeito visual da cerca de bambu ao fundo nos transmite uma sensação de aconchego.

     Para fazer uma cerca de bambu, deve-se preparar o material para ter uma boa durabilidade. Um bambu mal colhido dura apenas um ano, mas se for colhido na hora certa e tratado, pode durar até uma década.     
     Deve-se colher o bambu somente quando estiver maduro (com a madeira bem pesada e rija), nos meses do inverno, e na lua minguante (quanto tem menos seiva circulando). 
     Após colhido e secado à sombra por um mês, faz-se o tratamento com fogo para que evapore a seiva, que atrai brocas. Com um maçarico, vamos aplicando fogo no bambu, quando percebemos que a água interna do bambu ferveu, dando um cheiro de cozido, o bambu esta pronto para uso. Ao construir a cerca, prefira amarrar do que pregar, pois os furos de prego facilitam a penetração da água, abreviando a duração do bambu. Deve-se evitar deixar buracos ocos voltados para cima, pois acumulam água da chuva. Após pronta a cerca, um verniz para madeira de uso externo vai incrementar a durabilidade por mais alguns anos.

Esteiras delimitando a área visual
Cerca de bambú ao fundo trazendo conforto ao ambiente.
Cerca "plano de fundo" da paisagem.

O coração do Jardim:

     Em um local de destaque, o coração do jardim:

     Todos os componentes do jardim – as plantas, pedras, o caminho, conduzem para este ponto, podemos dizer que é o lugar que coroa o ambiente, onde as pessoas possam dizer – realmente este é um jardim japonês:
Este ponto é o nicho, podemos dizer que seria o altar do templo – a tríade Lanterna, tsukubai e pedras.

     A lanterna simboliza o fogo e iluminação, clareando a mente de quem freqüenta o jardim.

     A fonte tsukubai onde o bambu sorve a água, representa a purificação.

     As pedras delicadamente dispostas, representam a família e os ancestrais, a pedra na horizontal – o Pai, a pedra na vertical – a Mãe, e as pedras pequenas ao redor, os filhos.

     Um detalhe importantíssimo deste conjunto é o fundo, que pode ser uma cerca fechada de bambú, para dar o ar de “nicho”, o fundo delimita o local trazendo calor e conforto à esta paisagem.

     As plantas são muito importantes neste cenário. Pode haver uma árvore ou arbusto robusto, para dar sombra a este conjunto, e ao fundo entre a cerca e a lanterna, bambus finos, cavalinha ou outras plantas esguias quebram a formalidade da lanterna, equilibrando o conjunto. 

O jardim visto de dentro de casa:

     Os idealizadores dos jardins tradicionais, não só tem o cuidado de criar uma belíssima paisagem, mas também primam pela maneira como ela vai ser vista de dentro de um aposento.

     Têm o cuidado de dispor as janelas internas, como se fossem a moldura de um quadro. A inspiração para este artifício, vem da idéia de confrontar o artificial com o natural.

     As molduras, biombos e esteiras da abertura fornecem o que se pode chamar de Yang (forma quadrada, previsível, criada intencionalmente), e a paisagem fornece o Yin (formas indefinidas, imprevisíveis, sem o controle do expectador). 
O efeito estético do contraste entre estas duas naturezas é arrebatador.

Paisagem emoldurada pela porta
Paisagem emoldurada pelo vitral
Paisagem emoldurada pela janela

O Jardim Visto de Fora:

     A maioria dos jardins modernos não possui um amplo espaço, e geralmente a distância ente o portão e a casa é curta.     
     Para parecer majestoso, o ideal é que se tenha uma impressão de que o jardim seja extenso, quando visto de fora.
     Como dar a impressão de um amplo e majestoso jardim, mesmo com o espaço limitado?

      Primeiramente, plante perto da frente do terreno um bom número de árvores para dar uma visão de volume, não precisam ser árvores frondosas, que com o tempo, irão criar muita sombra.

     Dê preferência às que atingem uma altura média, e que juntas vão dar a impressão de uma pequena floresta.    

Árvores dando a impressão de "floresta"


     Em segundo lugar, tente prolongar um pouco o caminho entre a entrada do portão e a casa, fazendo com que a estrada que leva até a casa seja curva.
     Os caminhos dos jardins orientais nunca são retos. Segundo a tradição, os bons espíritos preferem os caminhos sinuosos, enquanto os maus espíritos se perdem nas curvas e não conseguem atingir o interior do jardim. A estrada sendo curva, dará uma impressão de o jardim ser mais amplo.
     Se entre o portão e a entrada da casa existir uma inevitável linha reta, faça com que as pedras da estrada sejam dispostas em ziguezague.

      Em terceiro lugar, tente não mostrar diretamente de frente a casa, ou outro elemento importante. 
      Esta idéia está relacionada ao sentimento oriental de não mostrar completamente um objeto, dá uma ar de mistério e amplia a impressão de espaço.
      Manipulando o caminho que leva a casa, pode-se perfeitamente fazer com que ela não seja vista “chapada” de frente.
      Os tapumes e biombos executam com excelência esta função.
      Uma árvore pode també ser muito útil para cobrir um pouco a casa.

Árvores ocultando parte da casa

Autor da pesquisa – Márcio Sodré – 2007

Referências Bibliográficas:

Garden Views – Modern Japanese Gardens -Tatsui Teien Kenkyujo
Jardim Japonês – A magia dos Jardins de Kyoto – Sarkis Sergio Kaloustian